“O agente de mudança não pode ser um burocrata, cumpridor de regras. Ele deve ser capaz de influenciar na mudança de comportamentos dentro da empresa.”
A ABBC Educacional conversou com Ana Paula Candeloro, instrutora de cursos de Compliance oferecidos na Associação, advogada e especialista no tema. Ela falou um pouco sobre a evolução do Compliance e do profissional da área, que tem se tornado um dos mais importantes do cenário corporativo atual. Confira!
O que faz um Compliance Officer e como se deu o desenvolvimento dessa área?
R: O que chamamos de Compliance 1.0 nasceu com a crise deflagrada logo após a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, nos Estados Unidos. Ali teve início o reconhecimento da necessidade de um advogado no quadro funcional das instituições financeiras, para a checagem da aderência da conduta à norma, e também com a criação de algumas legislações para recuperar a confiança dos investidores. No Compliance 2.0, a área passou a contextualizar as políticas e diretrizes com o gerenciamento de riscos. Com o desenvolvimento da atividade do Compliance Officer no mercado financeiro, expandiu-se o gerenciamento de riscos para outros fatores muito importantes, como a maior preocupação na identificação de “cisnes negros” e a figura do “décimo homem”. Tais termos já são utilizados no mercado norte-americano, mas ainda pouco explorados no Brasil.
Por que começou a ser moldado um novo papel para o profissional da área?
R: Há mais de dez anos, a IOSCO (International Organization of Securities Commissions), principal fórum internacional para as autoridades reguladoras dos mercados de valores e derivativos, da qual a CVM é membro, divulgou um working paper que discorre sobre a função do Compliance Officer e estabelece que ele deve buscar soluções criativas e inovadoras para as questões internas e regulatórias. Esse novo papel, muito além de checar o regulatório, enfatiza que antecipar-se ao que pode acontecer reflete diretamente no ganho reputacional das instituições.
Como é essa teoria dos cisnes negros?
R: Em 2007, o matemático libanês Nassim Nicholas Taleb revolucionou ao publicar o livro “A lógica do cisne negro – O impacto do altamente improvável”. Até meados do século XVI, os cientistas europeus acreditavam na existência apenas de cisnes brancos, quando então avistaram pela primeira vez um cisne negro na Austrália. Partindo desse ponto de vista, Taleb orienta que, para a prevenção dos riscos, temos que descobrir o imprevisível, o improvável e nos preocuparmos com o imponderável.
Você acha que a prevenção é um aspecto cultural?
R: Sim. Temos a cultura de olhar retrospectivamente, como lição de casa para evitar que acontecimentos ruins não se repitam. Porém, temos que ter em mente que outros eventos vão acontecer e, talvez, da pior maneira possível. O conceito do décimo homem foi inspirado nos Conselhos de Administração de Israel, que elegem um conselheiro com a função de contestar todos os temas, ir na contramão do consenso, do que os demais acreditam ser razoável. O objetivo é sempre ter novas perspectivas e abrir o olhar para alternativas em qualquer situação.
Que outros aspectos são levados em conta no novo profissional de Compliance?
R: Entre os diferenciais da nova atuação da área, está a aplicação da matriz de risco, em que o profissional deve explorar impactos e probabilidades, além de praticar o Control Self Assessment no processo de gestão, aumentando a eficácia e a segurança do controle interno pela própria área.
Qual a importância da postura do Compliance Officer?
R: Outro aspecto a ser explorado de forma inovadora é a importância da liderança e da imagem do profissional de Compliance. O agente de mudança nesse cenário não pode ser um burocrata, cumpridor de regras. Ele deve ser capaz de influenciar na mudança de comportamentos dentro da empresa. Outro aspecto importante é a imagem do profissional – como ele se posiciona, qual a postura ideal, o comportamento e o tom de voz mais adequados devem ser abordados. Entendemos que cada vez mais cargos de destaque nas empresas são ocupados por profissionais jovens, que precisam desse suporte para se aperfeiçoarem no tratamento com a alta gestão, se imporem e engajarem.